Poesia
Pense nela
como o dedo cavando a fresta onde
há ainda uma pequena chance,
algo semelhante à colher numa cela
de presídio investindo contra
o chão de barro: um túnel,
a vaga ideia de liberdade.
Adriana Lisboa
Fóresia
Fraseio de acordo com o frasco
Contém um damasco
Suprimido até a dama que exorta
Reparar um dano na aorta
Falta coerência na horta
Lendo Maria Teresa Horta
O legume implume
Berinjela Beligerante
A mancha da machamba
Eido é quase um peido
Nada mais frágil do que eu penso
A metáfora faz parte da paisagem
Montagem de Montanha
Maquiagem com Maqui
Maquete do Manicá
Vontade de ser Marula
Acotonar na penúria
Tonar o céu tranquilo
Antro de probabilidades
Mais fácil eu não estar aqui.
Ednei P. Rodrigues
***escrito após a leitura do livro de Adriana Lisboa Parte da paisagem
Por um instante de penumbra
Há sol demais por aqui. As sombras
expatriam-se dentro das coisas, sem uma
chance. A luz é cáustica,
esta luz de inquérito sob a qual o preso
não tem outra alternativa.
Você optaria por um mundo em claro-escuro,
mas tudo se revela (pior: se demonstra,
como num laboratório, como no corpo
aberto de uma cobaia) com enorme zelo e
não admite perfis, murmúrios, vislumbres.
Essa luz medonha que se esfrega
na sua cara – o quanto você não daria
por um instante de penumbra.
Por um segundo de indecisão.