quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Nada mais frágil do que eu penso



Poesia

Pense nela

como o dedo cavando a fresta onde

há ainda uma pequena chance,

algo semelhante à colher numa cela

de presídio investindo contra

o chão de barro: um túnel,

a vaga ideia de liberdade.


                                                  Adriana Lisboa






Fóresia


Fraseio de acordo com o frasco

Contém um damasco

Suprimido até a dama que exorta

Reparar um dano na aorta

Falta coerência na horta

Lendo Maria Teresa Horta

O legume implume

Berinjela Beligerante

A mancha da machamba

Eido é quase um peido

Nada mais frágil do que eu penso

A metáfora faz parte da paisagem

Montagem de Montanha

Maquiagem com Maqui

Maquete do Manicá

Vontade de ser Marula

Acotonar na penúria

Tonar o céu tranquilo

Antro de probabilidades

Mais fácil eu não estar aqui.



                                        Ednei P. Rodrigues


         ***escrito após a leitura do livro de Adriana Lisboa Parte da paisagem





Por um instante de penumbra


Há sol demais por aqui. As sombras
expatriam-se dentro das coisas, sem uma
chance. A luz é cáustica,
esta luz de inquérito sob a qual o preso
não tem outra alternativa.
Você optaria por um mundo em claro-escuro,
mas tudo se revela (pior: se demonstra,
como num laboratório, como no corpo
aberto de uma cobaia) com enorme zelo e
não admite perfis, murmúrios, vislumbres.
Essa luz medonha que se esfrega
na sua cara – o quanto você não daria
por um instante de penumbra.

Por um segundo de indecisão.

                                                       Adriana Lisboa



segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Insulto contido pela metáfora


Vitupério

Vi tu no perímetro
Miragem do períneo
Periblepsia desértica
Perto do torpe
Repto ao septo
Rescender mesmo o fétido
Operação rescaldo
Sem respaldo
Ficou tudo hermético
Sua metade hérmia
Foi ser frugal para alimentar a metáfora
A distelasia da distância
A poesia era para uma hérnia
Perdi a musa
Apenas mua
Muafo que é desnecessário
Desabafo desde que esteja tudo bem
Quero ter a certeza de que você não está aqui.


                                     Ednei P.Rodrigues
                                                                                   
      

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Dicotomia de um dia comum

 
Cúbiculo

Insulto contido pela metáfora
O prefixo é fétido,escatológico
Perfumaria perfuraria a perspectiva 
Ninguém escapa da vertigem 
Dentro do escapamento meu estro sufocado
Sua metade ave incentiva o adejo
Cubiacanga na canga 
Súbito cúbito que se forma 
Humanizar o cubilote 
Dicotomia de um dia comum
Indaca que se forma de uma indagação
Indecências que inspiram
A indecisão sobre o indecoro ou o indedútivel
Com toda esse indefinição
A origem do silêncio
Matutar sobre o mato 
Algo bucólico
Onde o buço não incomode 
Quando o bucinador parar com o afeto 
A bucnemia da inércia.

                                               Ednei P.Rodrigues