PATRIMÔNIO
Adalgisa Nery
Pesam nos meus ossos
Os meus pensamentos,
Choram nos meus olhos
As visões neles crescidas,
Soluçam no torpor das minhas carnes
Ancestrais desalentos.
Sangram os meus pés
Na inútil andança
Da imaginação liberta,
Pulveriza o meu espírito
A solidão do suicida ignorado
E cresce assustadoramente dentro de mim
A calmaria que precede o fim.
Fardo
Carrego do êxtase
Bejel não é bege
Talvez o lirismo,Lilás
Em busca do monocromático
Deparei-me com o lúrido
A disfunção erétil de tudo
Outrora era mastro
Lânguida Langonha
Quase lagoa
O Lácar é acral
Singrar o copo sem pretensão
Copose de escopo
Zingrar o Rangipo
Vidro Viril
Viêgas de Tálassa
Grau de parentesco com a grua
Para içar a inércia
Inépcia do movimento retilíneo
Igualar ao aígue
A desídia sucumbi o verso
Mandria para dimanar.
Ednei P.Rodrigues
Glossário:
Lácar: É um lago de origem glacial na província de Neuquén, Argentina. Fica na cordilheira dos Andes, a 630 m de altitude.
acral:Que é relativo ou pertencente às extremidades ou as afeta.
Tálassa:na mitologia grega, a deusa do mar, filha de Éter e Hemera. Ela era a personificação feminina.
ABUNDÂNCIA
Há tanto fel provado
Na palavra escondida,
Tanto abismo no âmago do nada
Gritando o repetido estancado.
Há tanta perspectiva consumida
Em ventos e distâncias
Marcando lúcidos apelos
À gravidez da madrugada,
Há tanto ódio no hálito dos gestos,
Tanto desafio no silêncio ignorado
Nutrido em fétidos restos,
Há tanto sonho novo em quem morre
No compacto de sombras diluídas,
Tanta surpresa em luz e cor
Flutuando no futuro que se descobre,
Há tanto mistério puro no pecado,
Tanta mágoa na canção alegre.
Há tanta contextura
No fundo das águas cristalinas,
Tanta podridão
Alimentando a raiz da carne pura,
Tantas contemplações nos olhos cegos!
ADALGISA NERY
Erosão, 1973
Há tanto fel provado
Na palavra escondida,
Tanto abismo no âmago do nada
Gritando o repetido estancado.
Há tanta perspectiva consumida
Em ventos e distâncias
Marcando lúcidos apelos
À gravidez da madrugada,
Há tanto ódio no hálito dos gestos,
Tanto desafio no silêncio ignorado
Nutrido em fétidos restos,
Há tanto sonho novo em quem morre
No compacto de sombras diluídas,
Tanta surpresa em luz e cor
Flutuando no futuro que se descobre,
Há tanto mistério puro no pecado,
Tanta mágoa na canção alegre.
Há tanta contextura
No fundo das águas cristalinas,
Tanta podridão
Alimentando a raiz da carne pura,
Tantas contemplações nos olhos cegos!
ADALGISA NERY
Erosão, 1973