sábado, 23 de setembro de 2017

Mais do Mesmo


A tarada num carro


Eu não minto
Eu invento
E se tomo vinho tinto
Logo me esquento!
Quando sinto,
Eu tento.
Percorro o labirinto,
Busco o vento.
Arranco o teu cinto,
Deixo-te sedento
Aí vejo o teu pinto
E sento!

                                                         Ana C. Pozza



Continuação


Encontra conforto no erétil
Análogo ao Manaslu
Idêntico ao ctenídio
A evolução foi ser híbrido
Faz a erepsina
Diástase de dia
Diástole de noite
Verter à Vertência
Nem tudo sai pelo vertedouro
Vértebras&lágrimas versus o vertical
Seu parentesco com colima
Deixa que se colida
Não se importa com a cólica
Era colendo até certo ponto
A coleorrexia foi cortesia
Demonstra que tudo foi intenso
Veeme do veemente
Assumo a culpa
Mesmo consensual tem excesso.

                           Ednei P.Rodrigues                           

Glossário:

Manaslu:(também conhecido como Kutang) é a oitava montanha mais alta do mundo. Está localizada na cordilheira do Himalaia. Seu nome deriva da palavra Manasa, que em sânscrito significa a montanha do espírito.
ctenídio:
Órgão branquial primitivo de um molusco, que se assemelha a um pente ou pena; tem uma haste principal com lamelas laterais e se desenvolveu do lado interno
erepsina:
Diástase do intestino delgado
Diástase:
Enzima encontrada em sementes em germinação e em certas secreções e tecidos animais.
Diástole:
Movimento de dilatação do coração e das artérias.
Vertência:
Decurso do tempo.
Colima:
O vulcão de Colima é o mais ativo dos vulcões mexicanos, com mais de 40 erupções registadas desde 1576 Situa-se no complexo vulcânico de Colima do qual faz também parte o Nevado de Colima. O seu ponto mais elevado encontra-se a 3850 metros de altitude.
colendo: 
Venerável, respeitável.
coleorrexia:
Rotura da vagina.
Veeme:
Espécie de tribunal secreto que existia na Alemanha, na Idade Média.



Vertentes


As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não a primeira quebra

A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das árvores

Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga

A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge

A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes onde
a água cai sem tempo

António Ramos Rosa 

sábado, 2 de setembro de 2017

Surrealismo erótico


Panteísmo



Tarde de brasa a arder, sol de verão 
Cingindo, voluptuoso, o horizonte... 
Sinto-me luz e cor, ritmo e clarão 
Dum verso triunfal de Anacreonte! 



Vejo-me asa no ar, erva no chão, 
Oiço-me gota de água a rir, na fonte, 
E a curva altiva e dura do Marão 
É o meu corpo transformado em monte! 



E de bruços na terra penso e cismo 
Que, neste meu ardente panteísmo 
Nos meus sentidos postos e absortos 



Nas coisas luminosas deste mundo, 
A minha alma é o túmulo profundo 
Onde dormem, sorrindo, os deuses mortos! 


Florbela Espanca, "Charneca em Flor"

 Flor Raflésia

Libração da Libido em equilíbrio instável


Cartografia do Êxtase

Do ranine ao cérvix
Ampola sem Pálamo
Vontade de ser Fênix
A utopia cabe no tálamo
Enlevo coevo
Há coexistência com o cofator
A ptialina de Arion
Devagar,não quero atalhos
Muitos são os percalços até o peritônio
A varapa da patela 
Musala de Musa
Saliva delineava delírios
Uma dialogia diagonal para o cálamo
Rafe da Raflésia
Loxodromia no Lomedro
Quando o itinerário é ité
Trajeto que trajo como Tilma
Vontade de ser cacto
Para sua acufagia.

                             Ednei P.Rodrigues

Glossário:
Ranine-As veias linguais começam no dorso, lados e superfície inferior da língua, e, passando por trás junto do trajeto da artéria lingual, termina na veia jugular interna.
A veia comitante do nervo hipoglosso (veia 'ranine'), um ramo de tamanho considerável, começa abaixo da ponta da língua, e pode se unir à veia lingual; geralmente, entretanto, ela passa por trás do hioglosso, e se une à comum da face.
cérvix-(cérvice ou colo do útero) é a porção inferior e estreita do útero, quando ele se une com a porção final superior da vagina.
Ampola-Partindo do ovário para o útero, a tuba uterina é subdividida em quatro partes: infundíbulo, ampola, istmo e porção uterina (na parede do útero).
Pálamo-Membrana existente entre os dedos de algumas aves, répteis e mamíferos.
Tálamo-leito conjugal
ptialina-A Amilase Salivar (ou ptialina) é uma enzima da saliva que, em pH neutro ou ligeiramente alcalino, digere parcialmente o amido e converte-o em maltose. É na boca, com a ptialina da saliva, que começa a digestão química dos polissacarídeos ingeridos.
Arion- é um género de gastrópode da família Arionidae(lesma).
peritônio:Membrana serosa que reveste a cavidade do abdômen (peritônio parietal) e os órgãos que nele se encontram (peritônio visceral).
Mussala-é a mais alta montanha da Bulgária e de toda a península Balcânica, atingindo no topo os 2925 m (9.596 ft). Faz parte da cordilheira Rila.
varapa-o mesmo que escalada.
Rafe-Linha ou crista de junção de duas partes homólogas.
Loxodromia-Linha de navegação, que corta todos os meridianos, sob o mesmo ângulo, e que, nas cartas marítimas, é representada por uma linha reta.
Curva, traçada na superfície de uma esfera, cortando todos os meridianos, sob o mesmo ângulo.
Lomedro-A parte da coxa, que fica por cima do joelho.
ité-Que não tem sabor; insípido. 2 Adstringente (fruta).
tilma-é um tecido tradicionalmente indígena dos povos pré-colombianos de pouca qualidade feito a partir do cacto agave maguey.


    Todos os caminhos me servem.
Em todos serei o ébrio
cabeceando nas esquinas.
Uma rua deserta e o hálito
das pessoas que se escondem,
uma rua deserta e um rafeiro
por companheiro.

Ó mar que me sacode os cabelos
que mulher alguma beijou,
lágrimas que os meus olhos vertem
no suor dos lagares,
que uma onda vos misture
e vos leve a morrer
numa praia ignorada.


Fernando Namora, "Mar de Sargaços"