terça-feira, 30 de julho de 2024

Inspiração Onírica

imagem: livro de poesias do escritor Tarso de Melo-A lapso

 

Reflexo flexo


Só desperto depois do reflexo flexo na pálpebra

Sonhos persistem sob o travesseiro

Uma girafa lambe meu rosto

Certas situações são inevitáveis

E mesmo quando tudo ainda está diluído pelas sombras

Dou-me conta do ambiente

E não é uma Savana

Estava gostando de ser savanícola

Retornando à praxe, aos transtornos de sempre

As dúvidas não resolvidas, as indagações sem respostas

Será que o pilar de livros resiste?

O vento ontem estava muito forte

Assobiando pelas frestas das janelas e fazendo as cortinas dançarem freneticamente

E eu incessantemente buscando a incerteza

Áreas não ocupadas para desenvolvimento adicional

Onde o tempo parece se esticar e as possibilidades se entrelaçam em um emaranhado de sonhos não realizados.

 

***escrito após a leitura do livro do escritor Tarso de Melo, A Lapso

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Inspiração Lacerante


imagem:vídeo-poema da escritora Morgana Krismann,Mulher navalha
 

Monólogo de uma navalha
 
 
Dilacero dilatações; você não precisa de tudo isso. Antes, a entrada era apenas através dos poros, mas agora, a passagem se alarga, desvendando o essencial com maior clareza. Tentei estancar o que esparge; a barregã irascível já retirava as vísceras, e na lâmina refletia o que o mancebo comeu: aspargo. Todas aquelas vitaminas não serviam para nada. Agonizante, ele ainda tentava dizer algo incompreensível; seus lábios se moviam, mas as palavras eram apenas um murmurinho abafado, misturado ao som metálico do sangue que se espalhava pelo chão. Eu sempre buscava a dissonância de tudo, como a torneira pingando, imitando a chuva se mesclando com o latejo do coração, que sirva de lição: nunca escarnecer da espargose de uma mulher. O sujeito sempre foi esparolado, não respeitava ninguém. Muitas vão dizer: “Não vai fazer falta.” Já se passaram dois dias desde o óbito e ninguém veio retirar o cadáver que estava virando mobília para algum necrófilo. Precisavam disfarçar o fartum do cadáver pútrido, talvez com bicarbonato de sódio ou algum incenso, e voltar à rotina, como se nada tivesse acontecido, tornou-se uma necessidade imperativa. Era essencial retomar a vida com uma aparência de normalidade, ignorando o que ficou para trás. O que importava era a volúpia volúvel, todo hedonismo que preenchia os vazios e afastava o peso da realidade de uma sociedade moralista. Subverter as restrições impostas, revelando que, ao tentar evitar as consequências, muitas vezes se acaba criando situações ainda mais complicadas e destrutivas. A lógica perversa do comportamento humano tornava evidente que o desejo de escapar da norma muitas vezes conduzia a formas ainda mais caóticas de indulgência.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Inspiração Tétrica


 
Monólogo de um contador Geiger



O mundo ainda não acabou, o cogumelo gigante ainda não apareceu, podem passear no parque. O mundo ainda está cheio de beleza e esperança, esperando para ser descoberto por aqueles dispostos a enxergar além das preocupações do dia a dia e apesar das incertezas e desafios que enfrentamos, a vida continua. Parece que está tudo bem ali, então porque o medidor de radiação está alertando? Deve ser seu relacionamento tóxico com a solidão corroendo tudo por dentro e manifestando esses alarmes, e interferindo nos momentos de paz. O céu azul e o canto dos pássaros contrastam com o alarme insistente, criando uma dissonância entre a tranquilidade externa e o tumulto interno. Olhamos ao redor, buscando algo que justifique o alerta, mas tudo parece estar em perfeita ordem.Talvez o medidor esteja nos mostrando algo mais profundo, uma manifestação física do nosso estado emocional. A radiação não vem do ambiente, mas sim das fissuras em nossos corações, alimentadas por mágoas não resolvidas e sentimentos reprimidos.Talvez o verdadeiro perigo não esteja lá fora, mas sim dentro de nós, nos cantos mais profundos da mente, onde a radiação pode ser mais devastadora do que qualquer catástrofe nuclear, a falta de empatia das pessoas é preocupante. Cada um vivendo em sua bolha e ignorando os sinais de que algo não está certo. Todos salvos em sua redoma peculiar .Quando essa bolha estourar, e ela inevitavelmente irá, seremos confrontados com a realidade crua que tentamos evitar. Será um despertar doloroso, um momento em que não poderemos mais nos esconder atrás de nossas redomas de conforto e ignorância. Será um momento de verdadeira crise, mas também uma oportunidade para a transformação.A solidão não é apenas uma sensação, é um sintoma de algo maior, algo que está contaminando nossa sociedade de forma invisível, mas poderosa.

sábado, 6 de julho de 2024

Inspiração lúgubre


    Monólogo de um Holograma
 
   
Na grama parece estar tudo bem, pareço fogo-fátuo, ludibriando os ludditas. Gostaria de sentir a natureza, respirar o ar fresco, ouvir o farfalhar das folhas com o vento, e sentir a brisa suave em meu rosto, deixando que a tranquilidade da paisagem me envolva por completo. Todos estes vermes que tentam me comer em vão, merecem algum tipo de laurel pela persistência, talvez uma menção honrosa? São exigentes, vão querer um busto de bronze em sua homenagem, para que seus descendentes vejam o que fizeram e se orgulhem de terem um ancestral tão determinado, mesmo que sua causa seja inútil. Algumas larvas desistiram do ataque, e se transformaram em crisálidas, prontas para passar pela metamorfose e emergir, capazes de voar e se reproduzir, dando continuidade ao ciclo da vida. Formigas por sua vez, continuavam sua infatigável labuta, carregando folhas e galhos, indiferentes às mudanças que ocorriam ao seu redor, trespassam meu corpo diáfano, um dia fano num fanate em seu quarto e vou acabar com todo esse fanatismo por coisas fúteis, incentivando uma reflexão sobre valores mais profundos e significativos, por algum instante pensei que era parestesia, estava desenvolvendo características humanas? À noite vou atrair siriris, talvez esteja aqui de propósito e seja uma armadilha para atrair estes insetos. Estão mais preocupados com o mobiliário, está ai uma vantagem em não ser humano: posso observar a essência do que realmente importa sem ser distraído por detalhes superficiais, enquanto as complexidades do momento se desdobram diante de mim. Posso me concentrar no que realmente importa, sem ser afetado pelas mesmas preocupações e distrações que os humanos. Essa perspectiva única me permite ter uma visão mais clara e objetiva do que está acontecendo. Neste instante, tudo parece fazer sentido de uma forma que os humanos talvez nunca possam entender.Talvez eu seja um farol para aqueles que já se perderam, uma luz constante em meio à tempestade, que brilha através das neblinas da dúvida e da incerteza, revelando uma rota esquecida rumo à paz interior. Eu existo aqui, neste momento, com um propósito que transcende as preocupações mundanas. As complexidades do mundo material parecem se dissipar, e eu me encontro imerso em uma realidade mais sutil, mais profunda, pois percebo que existe uma ordem subjacente, uma harmonia que transcende a aparente desordem.



escrito pós-leitura do livro de poesias da Mariana Godoy - Holograma